O grande projeto carioca que encolheu

O grande projeto carioca que encolheu

Tudo começou em Dezembro de 2018, com uma provocação nas redes sociais da autora e roteirista da franquia Animais Fantásticos e Onde Habitam, J.K. Rowling, que, após anunciar o término de seu então mais novo roteiro, postou a seguinte frase em seu Twitter: “Rio de Janeiro had better brace itself” (Tradução livre: Rio de Janeiro, é melhor se preparar).

Em Novembro de 2018, Rowling já havia mencionado o Rio de Janeiro na década de 30 em sua conta do Twitter, tuíte que gerou especulações curiosas de fãs brasileiros da franquia: o que tinha o Rio antigo a ver com a criadora de Harry Potter? 

Foi-se descobrindo nas semanas seguintes que a autora havia ambientado sua mais nova criação cinematográfica na cidade maravilhosa.  Seu time de produção, seguindo as diretrizes dela, começou a planejar viagem para o Brasil com o intuito de filmar certas áreas mais antigas do Centro do Rio para utilizá-las como panos de fundo nas gravações do 3º filme na série de “Animais Fantásticos e Onde Habitam” (no Inglês, Fantastic Beasts and Where to Find Them).  E a Brazil Production Services foi a produtora brasileira escolhida para encabeçar essa unidade de produção no Brasil desse mega-blockbuster internacional. 

Quando a Warner entrou em contato com a BPS, o projeto estava com a proposta de mapear e escanear dezenas de prédios e áreas do centro do Rio de Janeiro, onde diversos edifícios da época colonial, imperial, e da virada do século se encontram, para que o time de efeitos especiais pudesse reconstruir a cidade carioca de 1930 com computação gráfica. A ideia era fazer algo grande e diverso, explorando os belos cenários da cidade que pudessem transportar os fãs para uma versão mágica do Rio de Janeiro dessa época.

(Acima, um dos dispositivos da tecnologia utilizada para o escaneamento)

No entanto, o vírus aterrissou no Brasil (e no mundo) antes, fazendo com que o plano de produção e o roteiro em si sofressem alterações dramáticas. 

Segundo o ator Eddie Redmayne, em entrevista para eCartelera falando sobre a versão final do filme que foi lançada mundialmente em Abril de 2022: “toda a parte situada em Buthan era para ter sido no Brasil, porque eles deveriam ter viajado para filmar lá.  E então a Covid aconteceu”. O ator lamentou o cancelamento das filmagens no Brasil e nós da BPS também!

Portanto, o que era para ter sido uma filmagem no Brasil com diversas locações cariocas, acabou, infelizmente, se tornando uma produção que contou com apenas uma dessas locações.  E a grande ideia inicial se concretizou em apenas uma cena de alguns segundos, na qual a comunidade mágica carioca celebra a vitória de Vicência, personagem interpretada pela brasileira Maria Fernanda Cândido, diante de seu gabinete mágico. 

Mas olhe só: o gabinete de Vicência foi nada mais, nada menos que o casarão do Parque Lage, no Rio de Janeiro, locação mundialmente conhecida e que conta, ao fundo, com a grande estátua do Cristo Redentor.  

O lindo casarão foi escaneado pela equipe da BPS usando tecnologia LIDAR, que, segundo a Diretora de Produção Executiva da empresa, Valéria Costa, é uma ferramenta muito utilizada para a construção de ambientes e cenários digitais hoje em dia. A tecnologia captura e mede propriedades da luz refletida e, com essa informação, documenta com precisão as características 3D do do prédio e dá para o time de pós-produção um material bruto de alta qualidade para se trabalhar em cima na montagem dos cenários digitais.

(Imagem da área captada)

Quem piscar pode perder a aparição relâmpago do Rio na versão final do filme de tão rápida que ela passa, mas pelo menos deu para dar um gostinho, por menor que seja, do cenário carioca.  Em suma, depois de meses de dúvida se o Rio seria ou não cenário do filme, a imagem abaixo foi o que sobrou da concepção original da autora na forma final do filme.

Apesar de decepcionados com o encolhimento da participação do Brasil no projeto, pensando pelo lado positivo: melhor uma cena do que nenhuma, não é?